O Conselho Federal de Psicologia (CFP) realizou, entre os dias 17 e 19 de outubro, em Brasília/DF, o “Congresso Brasileiro de Psicologia, Maconha e Psicodélicos: ética, saberes ancestrais e os caminhos para atuação”.
O evento, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), reuniu 25 palestrantes e atraiu 1.800 inscritos, além de mais de 8.500 pessoas acompanhando online.
Durante os três dias de atividade, especialistas discutiram o uso terapêutico da maconha e de psicodélicos em contextos psicoterapêuticos, abordando aspectos éticos, técnicos e científicos, além das possibilidades e desafios enfrentados pelos profissionais da psicologia.
Profissional de norte a sul do país
Psicólogos, pesquisadores, representantes de movimentos sociais e associações, e estudantes de todas as partes do país lotaram o auditório do Hotel San Marco. A participação sem custos e com certificado fez com que as inscrições acabassem cinco dias depois de abertas.
Para o vice-presidente do Conselho Federal de Psicologia, Alessandra Almeida, o balanço do evento foi o melhor possível.
“Para nós é muito caro debater e refletir efetivamente sobre os impactos do uso da maconha e dos psicodélicos na sociedade, considerando as características do nosso país sustentado por uma estrutura racista, misógina e sexista”, pontou Alessandra.
Medidas efetivas de atuação
O congresso integrou um conjunto de iniciativas de um grupo de trabalho criado em maio de 2023 durante a Assembleia de Políticas, da Administração e das Finanças (Apaf), com o objetivo de desenvolver um plano institucional para tratar dessas questões no âmbito do Sistema Conselhos de Psicologia.
Apesar de os psicólogos não poderem prescrever o uso medicinal da maconha (apenas médicos e dentistas com registro válido podem prescrever no Brasil), são eles que acompanham os pacientes de perto.
Apropriação da temática prática
O conselheiro Anderson Matos, um dos organizadores do evento, disse que os psicólogos precisam se aprofundar no assunto do ponto de vista ético, técnico e político para compreender de que forma a profissão pode atuar na prática.
“Novidades de 5 mil anos atrás que precisam ser abordadas, discutidas e trabalhadas para que possam ser apropriadas na sua prática”, defendeu o conselheiro Matos.
Psicodélicos e o uso terapêutico
Sobre psicodélicos, o Professor do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Dráulio Barros de Araújo, disse que a instituição já vem desenvolvendo pesquisas, muito embora a regulamentação dessas substâncias tenha impedido os estudos científicos por mais de três décadas.
“Essas substâncias ocupam um espaço regulatório que estão na lista 1 do FDA (Food, Drug and Administration). Uma substância da lista 1 é altamente viciante, com alto risco de morte e nenhum benefício terapêutico. Claramente, esses argumentos não vieram pela ciência”, argumentou o professor.
De acordo com Dráulio, essas substâncias, do ponto de vista fisiológico, são extremamente seguras. “Para se ter uma overdose de ayahuasca é preciso beber 30 litros, se uma pessoa beber 30 litros de água também terá uma overdose”, comparou o estudioso.
A ciência como caminho
Para o pesquisador, nessas situações, a ciência se torna um instrumento importante para ajudar a colocar num modelo mais claro esses limites. “Um paciente com transtorno afetivo bipolar numa experiência com ayahuasca está sob risco, assim como uma pessoa que já tem histórico de surto psicótico, também está sob risco”, ensina.
“A ciência é um caminho possível contestar a lei na sua essência. Essas substâncias não matam, não dão overdose, não viciam e parecem ter um benefício terapêutico. Qual caminho? Ensaios clínicos. A ciência não é suficiente, mas é um caminho possível para devagarzinho ir mudando essa realidade”, conclui Araújo.
Confira quem participou:
17/10/2024
18h
Abertura Oficial
(Transmissão ao vivo)
– Alessandra Almeida (Vice Presidente do CFP)
– Carolina Roseiro (Conselheira do CFP e coordenadora do comitê organizador)
– Fábio Lopes (Conselheiro do CRP-08)
– Helena Rodrigues (Fiocruz-DF)
– Dráulio Araújo (ICe/UFRN)
– Francisco Netto (Fiocruz-RJ)
19h30 às 21h30
Colóquio de abertura
(Transmissão ao vivo)
– Carolina Roseiro (Conselheira do CFP)
– Fernanda Jófej Kaingáng (Museu Nacional dos Povos Indígenas)
– Yara Nico (Psicóloga)
– Sandro Rodrigues (Associação Psicodélica do Brasil)
– Sidarta Ribeiro (ICe/UFRN)
18/10/2024
8h30 às 10h30
Mesa Marcos legais e políticas públicas
(Transmissão ao vivo)
– Alexander Morais de Oliveira (CDH/CFP)
– Bruna Imani (Iniciativa Negra)
– Edinaldo Rodrigues Xukuru (psicólogo de saúde indígena)
– Fernando Beserra (Psicólogo – Associação Psicodélica do Brasil)
– Emílio Figueiredo (Advogado com atuação no campo das políticas sobre drogas, cannabis e psicodélicos)
10h30 às 13h
Mesa Psicoterapias e outras clínicas: dimensão ético-política/ psicodélicos
(Transmissão ao vivo)
– Carolina Roseiro (Conselheira do CFP)
– Sophie Laborde (Psicóloga)
– Paula Siqueira (Psicóloga)
– Bruno Ramos Gomes (Psicólogo – Chacruna Institute)
– Luis Fernando Tófoli (ICARO / Unicamp)
14h30 às 16h30
Mesa Psicoterapias e outras clínicas: dimensão ético-política/Cannabis
(Transmissão ao vivo)
– Anderson Matos (Conselheiro do CRP-04)
– Maria Angélica Comis (Rede Brasileira de Redução de Danos e Direitos Humanos)
– Cauê Pinheiro (Psicólogo – ACAFLOR/ABIPSI)
– Paulo R Morais (LEP-UNIR)
– Claudio Queiroz (ICe-UFRN)
16h30 às 18h
Fórum Temático 1 – Marcos Legais e Políticas Públicas
16h30 às 18h
Fórum Temático 2 – Dimensão ético-política/ psicodélicos
16h30 às 18h
Fórum Temático 3 – Dimensão ético-política/Cannabis
19/10/2024
9h às 11h
Mesa Cultura, povos tradicionais e reparação social
(Transmissão ao vivo)
– Andreza Costa (CDH/CFP)
– Nita Tuxá (Conselheira do CFP)
– Bunke Inani Huni Kuin (Associação de mulheres huni kuin do jordão – ainbu daya)
– Dandara Rudsan (Iniciativa Negra)
– Adriano de Camargo (Instituto Nhaderu)
– Renata Monteiro (Instituto Jurema)
11h30 às 13h
Fórum Temático 4 – Cultura, povos tradicionais e reparação social
11h30 às 13h
Fórum Temático 5 – Marcos Legais e Políticas Públicas
11h30 às 13h
Fórum Temático 6 – Psicoterapias e outras clínicas: dimensão ético-política/Cannabis e psicodélicos
15h às 17h
Mesa Encerramento
(Transmissão ao vivo)
– Helena Rodrigues (Fiocruz-DF)
– Ivanildes Kerexu (Liderança da aldeia Rio Bonito e do movimento FCT)
– Dráulio Araújo (ICe/ UFRN)
– Lauro Pontes (Psicólogo)
– Luciana Boiteux (Vereadora/Câmara Legislativa do RJ)
– Pedro Paulo Bicalho (Presidente do CFP)