3º Congresso Brasileiro da Cannabis Medicinal (CBCM) vai discutir achados científicos e inovação médica
O maior evento técnico-científico em medicina canabinoide da América Latina – o Congresso Brasileiro da Cannabis Medicinal (CBCM) – vai ocupar o Centro de Convenções de São Paulo Expo Center Norte, pela terceira vez, para trazer achados científicos e inovação médica.
Nos dias 23, 24 e 25 de maio, o congresso reunirá mais de 100 especialistas, pesquisadores, profissionais de saúde e entusiastas para discutir os avanços, os desafios e as perspectivas em torno do uso terapêutico e industrial da planta.
O evento, organizado pelo Sechat, uma plataforma especializada em informações, educação e negócios sobre a Cannabis para fins medicinais e industriais, ganha reconhecimento internacional ao promover o debate em alto nível, além de possibilitar a conexão direta entre diversos setores da cadeia produtiva.
Conselhos de Classe
Uma das contribuições, por exemplo, virá do Conselho Federal de Química (CFQ). A palestra do doutor em Química, Ubiracir Lima, conselheiro do CFQ, será sobre as possibilidades de rastreio e certificação dos cultivos de Cannabis no Brasil.
“A partir dessas metodologias de certificação de cultivares, nós vamos buscar alguns bio marcadores da planta, e com eles vamos entender exatamente qual é a impressão digital de cada um dos tipos de cultivares que a gente pode ter aqui no Brasil”, ensina o conselheiro do CFQ.
De acordo com Lima, a partir dessa certificação, é possível rastrear qualquer cultivo em solo nacional, derrubando a tese – dos menos informados – de que o Brasil não é capaz de controlar o plantio de um vegetal como a Cannabis devido à extensão territorial.
Achados científicos
Um dos pontos altos do congresso será a discussão sobre pesquisas clínicas e descobertas científicas relacionadas à Cannabis medicinal. Especialistas compartilharão insights sobre o uso da planta no tratamento de condições como autismo, epilepsia, dor crônica, transtornos de ansiedade, insônia, Alzheimer, doenças dermatológicas, demência e esclerose múltipla, por exemplo.
Atualmente, o Brasil reúne quase 500 mil pacientes com prescrição médica. Desde que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a importação de produtos à base de Cannabis no Brasil em 2015, o número de pacientes cresceu mais de 9.000%, segundo dados da autarquia.
Módulos interdisciplinares
Neste ano, o CBCM24 vai explorar módulos interdisciplinares na discussão dos especialistas. Temas como interação medicamentosa, tratamento de doenças neurodegenerativas e avanços no manejo de epilepsias refratárias serão tratados de forma complementar, afirma o neurocirurgião Pedro Pierro, diretor científico da Sechat e do Congresso.
Já o Sistema Endocanabinoide será detalhado com análises da sua função moduladora no organismo, a interação com a fisiologia, farmacologia e aplicações terapêuticas, incluindo tratamentos com psicodélicos e estudos de casos clínicos reais.
Um dia a mais
Outra novidade na edição de 2024 é que nesse ano os profissionais da área da saúde terão um dia a mais (sábado) para interagir com os expositores e conhecer os principais produtos e inovações disponíveis no mercado.
“O Brasil já é uma referência do setor na América Latina. Prova disso é a presença de empresas do Uruguai, Colômbia e outras nações, como Estados Unidos e Israel, participando do nosso evento. Estamos conquistando um público cada vez maior por meio do nosso trabalho de promoção e divulgação”, conta Daniel Jordão, diretor da Sechat.
A Cannabis na odonto
Muita gente ainda desconhece, mas o uso medicinal da Cannabis também pode beneficiar pacientes com patologias odontológicas. O dr. Rogério Zambonato, cirurgião dentista, vai explicar aos congressistas, por exemplo, como as alterações das deformidades dentofaciais (DDF) podem impactar na homeostase corporal, que é o equilíbrio interno do corpo diante reações externas.
“O paciente tem uma inflamação crônica – isso é comprovado cientificamente – e essas alterações, consequentemente, alteram a homeostase. É onde nós vamos trabalhar diretamente as indicações que nós temos para o uso da Cannabis em todas essas áreas relacionadas ao tratamento”, detalha Zambonato.
Canabinoides menores
Os cientistas e pesquisadores também apresentarão novas moléculas medicinais (os canabinoides menores) que vêm sendo descobertas, estudadas e melhor exploradas, para além dos clássicos compostos de CBD (canabidiol) e THC (Tetrahidrocanabinol), os mais conhecidos até então.
Outro aspecto importante que será abordado no CBCM24 é a regulação, a judicialização e o acesso à Cannabis medicinal pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Quais são as mudanças necessárias na legislação para ampliar o acesso? Como garantir acesso seguro e eficaz ao tratamento? Que tipo de segurança jurídica é necessária para proteger ciência e produção nacional?
Questões éticas, legais e econômicas serão discutidas em profundidade, visando promover um ambiente regulatório mais inclusivo e sustentável.
Insumo industrial
Na parte industrial de exploração econômica da planta como um todo, especialistas vão debater como o cultivo do cânhamo no Brasil pode ser uma solução ecologicamente correta para diversos setores. Desde a regeneração de solos degradados até a produção de biocompostos que podem substituir o plástico, por exemplo.
Essa cepa da Cannabis, com rastros de THC e incapaz de produzir droga, tem sido cultivada para construir casas, desenvolver tecelagem, produzir alimentos não psicoativos e matérias-primas biodegradáveis.
Questões regulatórias de acesso e o uso industrial de outras partes da planta também serão abordados, como explica Rafael Arcuri, presidente da Associação Nacional do Cânhamo.
Regulação e negócios
“Esse é um evento muito importante que congrega todo o mercado e traz tudo o que está acontecendo do ponto de vista regulatório e de negócios. A minha mesa vai falar como a produção de cânhamo, o Brasil conseguiria ser a grande potência de canabinoide no mundo”, antecipa Arcuri.
Com a crescente conscientização sobre os benefícios medicinais da Cannabis e a flexibilização das leis em vários países, incluindo o Brasil, o evento deste ano ganha ainda mais relevância.
Nesta edição, o Instituto InformaCann apresentará a exposição “Cânhamo: uma revolução agrícola não psicoativa” aos congressistas. A mostra que já esteve na Câmara dos Deputados e na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo reúne produtos como pratos e talheres feitos com cânhamo, alimentos não psicoativos, madeira, roupas e até um tijolo desenvolvido com a fibra da planta.
EUA vai reclassificar a Cannabis
Recentemente, a agência federal de combate às drogas nos Estados Unidos, DEA (Drug Enforcement Administration) se posicionou a favor da reclassificação da Cannabis para uma droga de menor poder ofensivo e de adição.
Esse também é o mesmo entendimento do órgão que se assemelha à Anvisa nos Estados Unidos, o FDA (Food, Drug and Administration).
Na América Latina o Brasil ainda é um dos poucos países que ainda resistem em regulamentar o cultivo da Cannabis para fins medicinais, apesar de autorizar a importação do insumo.
Movimentou R$ 700 milhões em 2023
Para se ter uma ideia, o mercado medicinal da Cannabis no Brasil movimentou mais de R$ 700 milhões de reais em 2023, segundo dados da Kaya Mind.
De acordo com projeções do 4º Relatório Global sobre Cannabis da Prohibition Partners, o mercado legal da planta vai fechar 2024 valendo 103,9 mil milhões de dólares. E o Brasil foi citado pelo número crescente de paciente e porque o remédio já é fornecido via SUS.
Além de discutir e pensar sobre todos os desafios de incluir o Brasil nesse universo de possibilidades, o 3º Congresso Brasileiro da Cannabis Medicinal também vai proporcionar uma excelente oportunidade para network, novos negócios e troca de experiências entre os participantes.
3ª edição do Medical Cannabis Fair
O objetivo é que o congresso impulsione ainda mais o debate e a pesquisa nesse campo promissor, oferecendo uma plataforma única para colaboração e aprendizado contínuo.
Paralelamente ao CBCM, o Centro de Convenções do Expo Center Norte também vai receber, de forma simultânea, o Medical Cannabis Fair.
A feira vai reunir 60 expositores e mais de 80 marcas de diversos países trazendo as últimas novidades da medicina canabinoide. A expectativa é de que a feira atraia mais de cinco mil visitantes ao longo dos três dias de evento.
Confira os painéis da 3ª edição do CBCM:
MedCan Sistema Endocanabinoide: Este módulo explora o sistema endocanabinoide, sua interação com fisiologia, farmacologia e aplicações, e destaca tratamentos com psicodélicos e discussão de casos clínicos.
MedCan Especialidades: Este módulo aprofunda em especialidades médicas, abordando temas como interação medicamentosa, estética e doenças neurológicas, além de discussões de casos clínicos.
Odonto Cannabis: O modulo dedicado à odontologia apresenta um panorama das doenças odontológicas tratáveis com cannabis, além de promover a discussão de casos clínicos para facilitar diagnóstico e prescrição segura, alinhada à regulamentação odontológica.
Vet Cannabis: O módulo aprofunda conhecimentos em medicina veterinária e cannabis, abordando pautas jurídicas, integração com a Medicina Veterinária Integrativa e uso em animais de produção, fomentando debates sobre tendências e casos clínicos.
Business Cannabis: Discute as possibilidades de negócios relacionados à cannabis em um contexto global, e uma visão das oportunidades do mercado brasileiro. Dedicando-se à compreensão dos entraves legislativos, regulatórios e jurídicos para o desenvolvimento do mercado.
Agro & Tech Cannabis: O módulo aborda a produção agrícola da semente ao produto final, destacando desafios da cannabis medicinal e do cânhamo industrial, incluindo rastreabilidade e tecnologia de extração para inovação no mercado brasileiro.
Mais informações e inscrições:
3º Congresso Brasileiro da Cannabis Medicinal
https://congressocannabis.com.br/
Medical Cannabis Fair
https://medicalcannabisfair.com.br/